quinta-feira, 25 de junho de 2009

Dias Úteis Celso Martins

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in Actual/Expresso 20 de junho

domingo, 21 de junho de 2009


Parábolas do Corpo
Maria do Mar Fazenda

O ensaísta e tradutor João Barrento, no prefácio de Parábolas e Fragmentos de Kafka, apresenta a estrutura da parábola da seguinte maneira: “A etimologia grega do nome, que é também o da figura geométrica aberta, com dois braços, um eixo e um foco, implica que alguma coisa é colocada ao lado (para-) da outra, que o sentido é lançado (-boléin) para uma zona-outra, adjacente, inesperada, obscura.” A parábola (em torno do corpo) é como, e por impulso, numa só linha conseguimos conter o trabalho de Catarina Botelho (Lisboa, 1982) que é agora reunido na sua segunda exposição individual e apresentado num prédio sem actividade no Chiado. Seguimos o desenho da parábola proposto por Barrento para aproximar a sua forma à prática de Botelho. O enunciado (um dos braços da curva) tem sido a constante e persistente concentração num determinado trabalho – fotografar (retratar) situações da sua intimidade –, o foco de convergência é a economia inerente às suas imagens, o eixo é a própria artista, a sua vida e trabalho; finalmente, a vertente de sentido (o outro braço espelhado) é produzida pela tensão que se gera em torno de dialécticas como arte-vida, presença-ausência, corpo-vazio, luz-sombra, etc. Uma realidade concreta, a das fotografias, é agora distribuída sensivelmente por uma casa, colocadas em função das entradas de luz que descrevem. A intimidade das imagens povoa as divisões e o observador no trajecto de as descobrir é lançado para uma narrativa-outra. Os outros dois blocos de trabalho apresentados em “Dias Úteis”, a série "Modo Funcionário de Viver" e o livro de artista "Termo de identidade e residência", são também dispositivos curvos no seu processo (o registo diário de uma mesma existência) assim como na sua apresentação (uma divisão ladeada por imagens e um livro em harmónio). No texto do catálogo, a curadora da exposição, Filipa Valladares, convoca o género da still life como enquadramento a partir do qual podemos pensar o trabalho de Botelho. Acrescentaríamos que esta óptica não se circunscreve apenas às naturezas mortas (fotografias sem pessoas), que nesta exposição se assumem de modo destemido, mas a toda a sua pesquisa visual. Uma toalha sobre a cadeira é tão ou mais corpo do que os corpos que estão em algumas imagens, ainda que ausentes, ou melhor, é sempre sobre o registo da memória do corpo que a artista se parece concentrar; produzindo “imagens do pensamento”.

in L+Arte junho

terça-feira, 9 de junho de 2009